domingo, 21 de junho de 2009

Engenho de Artes

Registei com muita satisfação a realização do projecto "Engenho das Artes", na Calheta. Não assisti a todas as manifestações, mas o que consegui ver deixou-me boa impressão. Assisti ao pequeno ciclo de comunicações e assisti à actuação do grupo "Seis Pó Meia Dúzia", animação deveras interessante, os miúdos deliraram e penso tratar-se daquele tipo de manifestações muito benéficas para aquela fase etária. Com o limar de algumas arestas, penso que teremos no futuro a continuação duma boa iniciativa.

De resto, iniciativas desta natureza são sempre de louvar: tudo quanto junte diversas formas de expressão, música, artes plásticas, de preferência com a participação de estudantes, tudo quanto seja divulgação de manifestações criativas deveriam ser sempre apoiadas. O privilégio que tem sido dado a tudo quanto é técnica e tecnologia tem feito esquecer que a manifestação mais elevada do espírito humano é tudo o que tem a ver com criatividade.

Aproveito, já que estou no meio deste desabafo, para chorar mais um bocadinho pelo desperdício que foi a destruição do Engenho do Hinton. Em vez dum triste jardim pouco frequentado e ainda por cima mal amanhado, onde parece que o que está em evidência e em exposição é um símbolo fálico, quantas manifestações poderiam ser programadas nesse espaço, um espaço que fosse um verdadeiro Centro de Artes!.

Ângela Costa - Cartas do leitor
in, Diário de Notícias da Madeira - 22/06/2009

quarta-feira, 17 de junho de 2009

'Engenho de Artes' visou uma pluralidade

Encerrou ontem a iniciativa 'Engenho de Artes', que movimentou o engenho da Calheta com uma exposição colectiva, palestras e 'workshops'. Nova sessão de escultura com Francisco Simões, uma conferência intitulada 'Música e Contraste de Gerações', com Lidiane Dualibi e as 'Seis Po' Meia Dúzia', e final mente uma serenata pelo Grupo Madeirense de Fados de Coimbra foram as actividades ontem desenvolvidas, nesta acção interdisciplinar coordenada por Lucilina Freitas e realizada pela 'Arteventos' com o apoio da DRAC e da Sociedade dos Engenhos da Calheta. O escultor Francisco Simões frisou ao DIÁRIO que "o principal objectivo deste encontro foi o de promover a amizade, a pluralidade, na arte". Simões, que orientou várias sessões de escultura, disse que, como pedagogo, defende a interdisciplinaridade, e considerou que a 'Engenho de Artes' pode ter sido "um pequeno embrião, cheio ainda de pequenos defeitos, que permite, no entanto, pensar, a partir daqui, em iniciativas futuras". Tudo para fazer com que, noutras hipotéticas iniciativas multiculturais "as conferências, os debates, os pensamentos, o aprofundamento das questões da arte (desde a mais convencional à mais conceptual, desde os suportes tradicionais às tecnologias), da filosofia, da literatura e da música possam ser promovidas". Na opinião de Simões, faltou a esta iniciativa a presença de música erudita, "por exemplo um quarteto de cordas", mas também - "e é uma lacuna grave - a literatura, a poesia, o romance, faltaram os escritores madeirenses, alguns dos quais com grande talento". O futuro "pode ser este projecto, com mais qualidade".

Luís Rocha

in, Diário de Notícias da Madeira, 17/06/2009

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Debate - Reflectir Arte e Património 15 Jun 2009

Sessão de Escultura - Francisco Simões 15 JUN 2009

'Engenho de Artes': da criação ao património

O debate 'Reflectir Arte e Património' (integrado na iniciativa 'Engenho de Artes', promovida pela 'Arteventos', com co-organização e direcção de Lucilina Freitas) juntou ontem várias personalidades do mundo da Cultura e não só, no engenho da Calheta. A artista Filipa Venâncio iniciou as intervenções, abordando, a propósito a sua exposição 'A Fábrica do Açúcar', em finais do ano passado na Quinta Palmeira, na qual evocou a memória do 'engenho do Hinton', no Funchal, procurando facultar ao fruidor a sua interpretação de um espaço hoje inexistente, criando pinturas com um conteúdo memorialista e talvez mesmo nostálgico, a partir de antigos registos, como fotografias e filmes.

Lídia Goes Ferreira, directora do Museu Etnográfico da Madeira (antigo engenho da Ribeira Brava) falou das novas perspectivas da museologia face à salvaguarda do património industrial, tecnológico e etnográfico, e defendeu a manutenção de actividades tradicionais, de forma que sejam desejadas pelas próprias populações, e sirvam de veículo de preservação da identidade de um povo. João Carlos Terra Boa, dos Serviços Educativos do Museu, falou de múltiplas actividades desenvolvidas, e de intercâmbios com várias manifestações artísticas. O historiador Alberto Vieira centrou a sua intervenção na história e economia do açúcar, valorizando a propósito os engenhos: o da Calheta, referiu, é, dentro do número de estruturas similares existentes na Região, a que "mais se aproxima do estado primitivo".

Já o engenheiro agrícola Miguel Rodrigues falou do cultivo da cana-de-açúcar e da tecnologia e métodos que lhe estão associados. Finalmente, Carlos Valente, docente da UMa, falou da exposição actualmente patente no engenho da Calheta, que reúne trabalhos de diversos artistas, abordou a "reconciliação" entre as linguagens artísticas mais clássicas e contemporâneas, e a utilização de espaços menos convencionais para exposições, como o engenho, reflectindo em como os artistas podem desenvolver memórias individuais, devolvendo-as ao colectivo; e admitiu que é difícil expor num espaço como aquele.

Nem todos gostaram do resultado desta acção interdisciplinar: no período de debate, António Gorjão, docente da UMa, condenou os "selvagens" que, na inauguração da mostra, não se coibiram de ensaiar previamente o som da música que iam tocar ("se é que aquilo era música", disse), e que, com o ruído, desviaram atenções da exposição. As correntes de ar e consequentes resfriados foram apontados como exemplo de que aquele espaço não era o mais adequado para uma iniciativa que incluiu palestras e debates.

Hoje, há novas sessões de escultura com Francisco Simões, e conferências com Lidiane Dualibi e as 'Seis Po' Meia Dúzia'. Às 21 horas, haverá uma serenata pelo Grupo Madeirense de Fados de Coimbra.

Luís Rocha

in, Diário de Notícias da Madeira - 16/06/2009

"Engenho das Artes" juntou na Calheta 30 artistas de diferentes gerações

Trinta artistas de diferentes gerações participaram na iniciativa "Engenho das Artes", na Calheta, num diálogo de várias áreas de expressão.

O encontro, que terminou hoje depois de uma semana de trabalhos, juntou artistas plásticos e músicos, no ambiente industrial do engenho centenário da cana sacarina da Calheta.

No quaddro do Engenho das Artes, foi montada uma exposição de artes plásticas que chamou à Calheta visitantes de vários pontos da Madeira.

Segundo disse à Lusa a jovem artista Lucilina Freitas, uma das participantes, a experiência "foi positiva e mostra que o grande objectivo de chamar as pessoas para eventos de arte se consegue implementar".

Acrescenta que o "concelho da Calheta, na zona oeste da ilha da Madeira, surpreendeu novamente com a sua política multicultural e dinâmica, proporcionando num ambiente industrial do engenho da cana sacarina uma actividade onde se concretizam diálogos através de diferentes meios de expressão".

Presente na iniciativa, o escultor Francisco Simões classificou este evento como "um encontro de artistas em amizade".

O promotor do evento foi o filho do escultor, Francisco Filipe Simões, natural daquele concelho madeirense, que explicou à Lusa que na génese do evento está uma proposta surgida no mestrado em "Gestão Cultural" da Universidade da Madeira, no sentido de pôr de pé um projecto de intervenção cultural num espaço não relacionado com a arte.

O local escolhido foi o engenho da Calheta, um edifício de finais do século XIX considerado um ex-libris da arquitectura industrial madeirense.

Entre os objectivos do evento estavam a promoção deste imóvel histórico e da cultura daquela zona da ilha bem como proporcionar ao cidadão comum do mundo rural, com relevo para as crianças, o usufruto da arte.

AMB

Lusa/fim

in Expresso, on-line - 15/06/2009

Engenho de Arte

O Concelho da Calheta na ilha da Madeira surpreende-nos novamente com a sua politica multicultural e dinâmica proporcionando-nos agora no ambiente industrial do Engenho da cana sacarina uma actividade “Engenho de Arte”, onde se concretizam diálogos através de diferentes meios de expressão: a expressão plástica, a expressão musical, a intenção pedagógica de oficinas de música e debates num âmbito do universo da arte e do património.

Este evento tratado e organizado de forma mais profunda lembra outra actividade organizada pela autarquia no ano de 1997, neste mesmo espaço.

O programa do “Engenho de Arte” revelador de longo período de fermentação e elaboração demonstra o que este projecto exigiu desde o seu início a 9 de Junho até 16 de Junho de 2009. Destaca-se a Exposição Colectiva de artistas plásticos que comungam a sua formação académica na dita escola de “Belas Artes” da Madeira que naturalmente sofreu diferentes nomenclaturas com o passar do tempo, por isso, consideremos o conceito de Belas Artes como referência.

A exploração de diferentes meios expressivos na procura de elevar a proposta estética a outros níveis de entendimento poético nota-se na obra desenvolvida por alguns dos participantes como: Evangelina Sirgado de Sousa, e.laboração , Desidério Sargo, Vídeo Instalação: “mudança de turno”, 2009, Patrícia Sumares, Há sempre alguém que diz não e António Gorjão, 3 E(s)-Exercício/Experiência/Ensaio: Alguns temas ou dicas para a reflexão pelos artistas e pelos Fruidores e quantos o não sejam ou (julguem que) o não querem ser/convite a pensarem um bocadinho... Ou: 3P(s)-Pré/Pró/Proto-Manifesto Estético-Teórico-Artístico, trabalho este que interage com a escultura de manuelrodriguez, Azucar refinado/ ColourfulSugar, made in emotional brain.

Podemos também encontrar uma outra atitude criativa no âmbito da Expressão Plástica em que para o grande público o entendimento seja associado a uma imediata identificação com pintura ou escultura, na realidade de uma existência bi ou tridimensional em alguns trabalhos, que proporcionam o prazer estético como o reconhecimento da habilidade no domínio das tecnologias e meios, no entanto, não revelador na sua essência de preocupações de ordem sociológica ou filosófica, como nos casos de Francisco Simões, No sono da Vaga, Ricardo Veloza, S/titulo, José Manuel Pimenta, Composição, Karocha, S/titulo.

Na tradicional realidade bidimensional da pintura a obra de Richard Fernadez, My name is Dita, demonstra um interessante sentido de humor/sátira suportado por um agradável domínio técnico e cromático.

Carla Cabral, Receita bolo de mel, através de subtil trabalho alerta-nos para a importância da preservação do património e da memoria colectiva utilizando receitas de bolo de mel.

Os trabalhos de Sílvio Cró, Cough Cough,, e de Ara Gouveia, S/titulo, reveladores de outros territórios da inteligência visual são propostas merecedoras de investigação pela interessante utilização da matéria cromática e do suporte utilizados.

Diria então que esta exposição colectiva demonstra a complexidade do ser e estar na contemporaneidade dos processos criativos, assim como, a habilitação académica destes criadores habilitou-os a uma autonomia e sentido critico individual. O Engenho embriagou as obras as obras de alguns intervenientes, outros dele suporte fizeram. Qualquer uma destas abordagens justifica-se demonstrando que os diálogos entre o criador, o espaço e o meio não têm limites. Aqui a eterna e moribunda declaração da morte da arte deixa de ter qualquer sentido.

Lucilina Freitas

Catálogo da Exposição Engenho de Artes