segunda-feira, 15 de junho de 2009

Engenho de Arte

O Concelho da Calheta na ilha da Madeira surpreende-nos novamente com a sua politica multicultural e dinâmica proporcionando-nos agora no ambiente industrial do Engenho da cana sacarina uma actividade “Engenho de Arte”, onde se concretizam diálogos através de diferentes meios de expressão: a expressão plástica, a expressão musical, a intenção pedagógica de oficinas de música e debates num âmbito do universo da arte e do património.

Este evento tratado e organizado de forma mais profunda lembra outra actividade organizada pela autarquia no ano de 1997, neste mesmo espaço.

O programa do “Engenho de Arte” revelador de longo período de fermentação e elaboração demonstra o que este projecto exigiu desde o seu início a 9 de Junho até 16 de Junho de 2009. Destaca-se a Exposição Colectiva de artistas plásticos que comungam a sua formação académica na dita escola de “Belas Artes” da Madeira que naturalmente sofreu diferentes nomenclaturas com o passar do tempo, por isso, consideremos o conceito de Belas Artes como referência.

A exploração de diferentes meios expressivos na procura de elevar a proposta estética a outros níveis de entendimento poético nota-se na obra desenvolvida por alguns dos participantes como: Evangelina Sirgado de Sousa, e.laboração , Desidério Sargo, Vídeo Instalação: “mudança de turno”, 2009, Patrícia Sumares, Há sempre alguém que diz não e António Gorjão, 3 E(s)-Exercício/Experiência/Ensaio: Alguns temas ou dicas para a reflexão pelos artistas e pelos Fruidores e quantos o não sejam ou (julguem que) o não querem ser/convite a pensarem um bocadinho... Ou: 3P(s)-Pré/Pró/Proto-Manifesto Estético-Teórico-Artístico, trabalho este que interage com a escultura de manuelrodriguez, Azucar refinado/ ColourfulSugar, made in emotional brain.

Podemos também encontrar uma outra atitude criativa no âmbito da Expressão Plástica em que para o grande público o entendimento seja associado a uma imediata identificação com pintura ou escultura, na realidade de uma existência bi ou tridimensional em alguns trabalhos, que proporcionam o prazer estético como o reconhecimento da habilidade no domínio das tecnologias e meios, no entanto, não revelador na sua essência de preocupações de ordem sociológica ou filosófica, como nos casos de Francisco Simões, No sono da Vaga, Ricardo Veloza, S/titulo, José Manuel Pimenta, Composição, Karocha, S/titulo.

Na tradicional realidade bidimensional da pintura a obra de Richard Fernadez, My name is Dita, demonstra um interessante sentido de humor/sátira suportado por um agradável domínio técnico e cromático.

Carla Cabral, Receita bolo de mel, através de subtil trabalho alerta-nos para a importância da preservação do património e da memoria colectiva utilizando receitas de bolo de mel.

Os trabalhos de Sílvio Cró, Cough Cough,, e de Ara Gouveia, S/titulo, reveladores de outros territórios da inteligência visual são propostas merecedoras de investigação pela interessante utilização da matéria cromática e do suporte utilizados.

Diria então que esta exposição colectiva demonstra a complexidade do ser e estar na contemporaneidade dos processos criativos, assim como, a habilitação académica destes criadores habilitou-os a uma autonomia e sentido critico individual. O Engenho embriagou as obras as obras de alguns intervenientes, outros dele suporte fizeram. Qualquer uma destas abordagens justifica-se demonstrando que os diálogos entre o criador, o espaço e o meio não têm limites. Aqui a eterna e moribunda declaração da morte da arte deixa de ter qualquer sentido.

Lucilina Freitas

Catálogo da Exposição Engenho de Artes

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