segunda-feira, 15 de junho de 2009

'Engenho de Artes': da criação ao património

O debate 'Reflectir Arte e Património' (integrado na iniciativa 'Engenho de Artes', promovida pela 'Arteventos', com co-organização e direcção de Lucilina Freitas) juntou ontem várias personalidades do mundo da Cultura e não só, no engenho da Calheta. A artista Filipa Venâncio iniciou as intervenções, abordando, a propósito a sua exposição 'A Fábrica do Açúcar', em finais do ano passado na Quinta Palmeira, na qual evocou a memória do 'engenho do Hinton', no Funchal, procurando facultar ao fruidor a sua interpretação de um espaço hoje inexistente, criando pinturas com um conteúdo memorialista e talvez mesmo nostálgico, a partir de antigos registos, como fotografias e filmes.

Lídia Goes Ferreira, directora do Museu Etnográfico da Madeira (antigo engenho da Ribeira Brava) falou das novas perspectivas da museologia face à salvaguarda do património industrial, tecnológico e etnográfico, e defendeu a manutenção de actividades tradicionais, de forma que sejam desejadas pelas próprias populações, e sirvam de veículo de preservação da identidade de um povo. João Carlos Terra Boa, dos Serviços Educativos do Museu, falou de múltiplas actividades desenvolvidas, e de intercâmbios com várias manifestações artísticas. O historiador Alberto Vieira centrou a sua intervenção na história e economia do açúcar, valorizando a propósito os engenhos: o da Calheta, referiu, é, dentro do número de estruturas similares existentes na Região, a que "mais se aproxima do estado primitivo".

Já o engenheiro agrícola Miguel Rodrigues falou do cultivo da cana-de-açúcar e da tecnologia e métodos que lhe estão associados. Finalmente, Carlos Valente, docente da UMa, falou da exposição actualmente patente no engenho da Calheta, que reúne trabalhos de diversos artistas, abordou a "reconciliação" entre as linguagens artísticas mais clássicas e contemporâneas, e a utilização de espaços menos convencionais para exposições, como o engenho, reflectindo em como os artistas podem desenvolver memórias individuais, devolvendo-as ao colectivo; e admitiu que é difícil expor num espaço como aquele.

Nem todos gostaram do resultado desta acção interdisciplinar: no período de debate, António Gorjão, docente da UMa, condenou os "selvagens" que, na inauguração da mostra, não se coibiram de ensaiar previamente o som da música que iam tocar ("se é que aquilo era música", disse), e que, com o ruído, desviaram atenções da exposição. As correntes de ar e consequentes resfriados foram apontados como exemplo de que aquele espaço não era o mais adequado para uma iniciativa que incluiu palestras e debates.

Hoje, há novas sessões de escultura com Francisco Simões, e conferências com Lidiane Dualibi e as 'Seis Po' Meia Dúzia'. Às 21 horas, haverá uma serenata pelo Grupo Madeirense de Fados de Coimbra.

Luís Rocha

in, Diário de Notícias da Madeira - 16/06/2009

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