sexta-feira, 12 de junho de 2009

Encontro de gerações de artistas e de várias expressões em diálogo no Engenho de Artes da Calheta
















Antiga unidade centenária transformadora da cana-do-açúcar transfigurada em galeria de arte que agrega artistas já consagrados e os estudantes de Belas-Artes 

A vila da Calheta, na costa oeste da Madeira, acolhe durante uma semana a iniciativa Engenho de Artes, com exposições, debates e espectáculos musicais, um projecto que transforma a centenária fábrica da indústria sacarina madeirense, nas proximidades do moderno Centro de Artes-Casa das Mudas, numa autêntica galeria. 
A ideia foi criar "um diálogo entre o património, as artes plásticas e a música", promovendo a troca de ideias entre os convidados e transmitindo-as a um público mais amplo, não apenas aos frequentadores habituais das galerias e museus, explica Lucilina Freitas, co-responsável pela concepção do projecto. O evento contempla "um diálogo entre o passado, o engenho, e o presente, a arte contemporânea", frisou o director regional dos Assuntos Culturais. A "capacidade dos artistas apresentarem propostas de intervenção neste espaço" é igualmente relevada por João Henrique Silva, sublinhando que "a tradição sustenta-se na medida em que se renova", num "diálogo criativo entre as marcas do passado e a aquilo que se propõe para o futuro" através do "apelo à imaginação criadora dos artistas". 

Várias gerações 
O escultor Francisco Simões classificou esta iniciativa como "um encontro de artistas em amizade", visto que conta com a participação de 25 criadores, sendo 12 madeirenses da sua geração de estudantes, na década de 70, na Academia de Música e Belas-Artes da Madeira, e 12 estudantes actuais. No espaço da fábrica de transformação da cana-de-açúcar estão expostas 35 peças criadas pelos artistas participantes, entre as quais uma em mármore intitulada Mulher, três em cerâmica e sete desenhos daquele artista. "É uma forma de mostrar que todos os artistas, os mais antigos e os mais jovens, são todos iguais", acrescenta o escultor responsável pelas obras de arte patentes no Parque dos Poetas, em Oeiras. 
Na génese do evento que decorre até ao próximo dia 16 está Filipe Simões, filho daquele escultor, que em uma das disciplinas do mestrado em Gestão Cultural leccionado na Universidade da Madeira propôs a intervenção cultural num espaço não-projectado para albergar obras de arte. Sendo natural da Calheta, "de imediato veio a ideia de utilizar esta fábrica da indústria sacarina, de finais do século XIX, atendendo que é considerado um ex libris da arquitectura industrial madeirense", revela. "Pretendemos promover este engenho enquanto monumento industrial, promover a cultura na Calheta e fazer com que o cidadão comum, do mundo rural, e as crianças venham e usufruam de escultura e arte, num espaço em que as peças estão colocadas num percurso de forma dinâmica", adiantou. O programa inclui uma componente lúdica com música ao vivo em quase todos os dias, com actuações dos grupos de Cordas da Fajã da Ovelha, Synergroove, Seis Po'Meia Dúzia, Cool Feel Band. 
Reflectir Arte e Património é o objectivo de um dos debates, o primeiro dos quais abordará os Espaços Antagónicos de Intervenção, com a participação da designer madeirense Nini Silva, do maestro Rui Massena e do escultor Francisco Simões, que, entre 14 e 16 de Junho, orientará sessões de escultura dedicadas a alunos dos concelhos da Ribeira Brava e Calheta. No âmbito desta componente educativa, um grupo de músicos dará aulas nas diversas escolas, com demonstrações de criação e reciclagem de instrumentos.


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